14 de maio de 1991: Maria Silva vem do Nordeste para tentar a vida no Rio de Janeiro.
Até aqui, nenhuma novidade. Maria é apenas mais uma mulher que veio para a grande cidade em busca de ilusão. Sem nenhum estudo, planejamento, dinheiro e expectativa acabou por morar em uma espécie de cortiço no alto da favela da Rocinha.
Humilde mulher, com apenas 19 anos começou a trabalhar em uma linda mansão em São Conrado em troca de um pouco de dinheiro e um pouco de estudo.
Casou-se com Anderson Ribeiro,um rapaz igualmente jovem da própria comunidade, e passou-se a chamar Maria Silva Ribeiro. Juntos construíram um pequeno lar com apenas um quarto e uma cozinha/banheiro.
Engravidou 5 vezes, mas apenas o último filho vingou. (os dois primeiros morreram na gestação e os outros 2 não passaram dos 4 meses de vida).
Porém, quando seu quinto e único filho passou do primeiro ano, quem morreu foi seu marido. Causa da morte: bala perdida.
A mulher de nome santo estava sendo apunhalada pelo fantasma da morte mais uma vez.
Ela já havia passado pela dor da fome, a dor de não ter um lar, a dor da decepção de ter abandonado a sua terra natal em busca de uma ilusão. Ela sentia saudades das suas irmãs, sentia saudades de seus pais, já tinha sido espancada sem motivo, mas ela tinha certeza que nada se comparava a dor de perder alguém que se ama. (e pela quinta vez ela sentia essa dor).
Por mais que ainda tivesse um filho, Maria sentia-se sozinha, Maria não queria mais viver... De luto, toda favela se apagou e chorou com Maria...
Rio de Janeiro, ano de 2009. A Rocinha cresceu, ganhou uma nova dinâmica e muitas novas “marias” que vieram tentar a sorte no Rio de Janeiro.
O tráfico de drogas cresceu assim como o número de tiroteios, o preconceito e medo dos moradores da Zona Sul e Oeste em relação à Rocinha. Mais do que nunca morador de favela virou sinônimo de bandido. (grande tolice da humanidade...).
Realmente não é nada fácil você ser o elo fraco da desigualdade social, não ter o que comer e o que vestir no frio e ainda conseguir dizer NÃO para as ofertas ilícitas, porém fáceis de conseguir dinheiro. Mas felizmente existem pessoas que conseguem dizer “não”.
Na própria Rocinha, das muitas “marias”, um jovem se destacava por essa força de vontade.
Era alto, moreno escuro de cabelos lisos e negros. Seu corpo raquítico suportava uma vontade de crescer na vida sem igual.
Vendia doces em sinais de trânsito e cerveja nos finais de semana de sol nas praias da Zona Sul. Com o dinheiro que arrecadava ajuda sua mãe, comprava cadernos, livros e juntava o pouquinho que sobrava para um dia comprar tênis especiais para prática de corridas. Era um dos poucos jovens de sua região que lia com perfeição e que era ótimo em matemática.
Por sinal,seu talento em matemática chamava a atenção dos chefões do tráfico que insistiam em chamá-lo para trabalhar junto com eles como uma espécie de tesoureiro. Mas ele de forma inacreditável negava o convite sem despertar a ira deles.
Ele sempre falava que queria ser exceção. Se no morro todo mundo era bandido, ele não ia ser. Se todo mundo não sabia ler, ele ia saber com excelência. Se todos usassem drogas ele seguir a vida em pró da saúde e do esporte.E seguindo esta lógica ele superava-se a cada dia o que só alimentava o seu sonho de ser médico e/ou maratonista.
No dia 2 de outubro, seu lado atleta falou mais alto que seu lado médico e ele não trabalhou, não estudou. Tirou o dia para ficar concentrado na praia de Copacabana aguardando a escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Sonhava com a escolha do Rio, pois acreditava que poderia ter a chance de competir na Cidade Maravilhosa.
Acho que nenhum dia foi tão longo para ele quanto o 2 de outubro de 2009. E quanto mais próximo ficava da anunciação, mais ele sofria.
Eis que na TV, um gringo de cabelos brancos deu a esperava notícia: O Rio iria sediar as Olimpíadas de 2016.
Neste momento seu lado maratonista praticamente anulou seu lado médico. Ele gritava,chorava e sambava ao som da bateria do Salgueiro. Teve vontade de ir correndo de Copacabana até a Rocinha para já ir treinando, no entanto, chegando no Leblon seus pés descalços não aguentaram e ele pegou um ônibus.
Ao chegar à favela, iluminou o morro com seu sorriso. Sua mãe tinha medo dele se iludir, afinal sabia que dificilmente seu filho ia ter a oportunidade de ser descoberto pelo esporte, mas naquele dia, ela não falou nada e deixou seu menino sorrir.
Uma semana depois, uma operação policial a fim de começar a eliminar a criminalidade na cidade eleita como sede das Olimpíadas de 2016, invadiu a Rocinha de madrugada. O morro que estava até com uma atmosfera melhor, uma vez que fora convencido por um menino raquítico que aquele lugar ia melhorar por causa das Olimpíadas, voltava a viver o terror da realidade.
A noite escura foi iluminada não mais por um sorriso, mas por tiros de fuzis.
Na manhã seguinte, os moradores viram pela janela o resultado na noite de terror. Inúmeros corpos estavam espalhados pelos corredores estreitos da favela. A fúnebre cena e o medo de ainda não ter acabado impedia que muitos saíssem de seus barracos.
O único som que abalava o silêncio daquele lugar era o choro de uma mulher, um choro que a Rocinha não escutava há 14 anos. Era o choro de Maria Ribeiro que em total desalento abraçava o corpo de um rapaz alto, raquítico, de pele morena escura e cabelos lisos e negros. O rapaz atirado no chão era André Ribeiro – 15 anos. O quinto, único e último filho de Maria Ribeiro – 27 anos que perdeu a sua vida por conseqüência das primeiras medidas para melhorar o Rio de Janeiro – a sede dos Jogos Olímpicos que André tanto sonhava em participar.
Até aqui, nenhuma novidade. Maria é apenas mais uma mulher que veio para a grande cidade em busca de ilusão. Sem nenhum estudo, planejamento, dinheiro e expectativa acabou por morar em uma espécie de cortiço no alto da favela da Rocinha.
Humilde mulher, com apenas 19 anos começou a trabalhar em uma linda mansão em São Conrado em troca de um pouco de dinheiro e um pouco de estudo.
Casou-se com Anderson Ribeiro,um rapaz igualmente jovem da própria comunidade, e passou-se a chamar Maria Silva Ribeiro. Juntos construíram um pequeno lar com apenas um quarto e uma cozinha/banheiro.
Engravidou 5 vezes, mas apenas o último filho vingou. (os dois primeiros morreram na gestação e os outros 2 não passaram dos 4 meses de vida).
Porém, quando seu quinto e único filho passou do primeiro ano, quem morreu foi seu marido. Causa da morte: bala perdida.
A mulher de nome santo estava sendo apunhalada pelo fantasma da morte mais uma vez.
Ela já havia passado pela dor da fome, a dor de não ter um lar, a dor da decepção de ter abandonado a sua terra natal em busca de uma ilusão. Ela sentia saudades das suas irmãs, sentia saudades de seus pais, já tinha sido espancada sem motivo, mas ela tinha certeza que nada se comparava a dor de perder alguém que se ama. (e pela quinta vez ela sentia essa dor).
Por mais que ainda tivesse um filho, Maria sentia-se sozinha, Maria não queria mais viver... De luto, toda favela se apagou e chorou com Maria...
Rio de Janeiro, ano de 2009. A Rocinha cresceu, ganhou uma nova dinâmica e muitas novas “marias” que vieram tentar a sorte no Rio de Janeiro.
O tráfico de drogas cresceu assim como o número de tiroteios, o preconceito e medo dos moradores da Zona Sul e Oeste em relação à Rocinha. Mais do que nunca morador de favela virou sinônimo de bandido. (grande tolice da humanidade...).
Realmente não é nada fácil você ser o elo fraco da desigualdade social, não ter o que comer e o que vestir no frio e ainda conseguir dizer NÃO para as ofertas ilícitas, porém fáceis de conseguir dinheiro. Mas felizmente existem pessoas que conseguem dizer “não”.
Na própria Rocinha, das muitas “marias”, um jovem se destacava por essa força de vontade.
Era alto, moreno escuro de cabelos lisos e negros. Seu corpo raquítico suportava uma vontade de crescer na vida sem igual.
Vendia doces em sinais de trânsito e cerveja nos finais de semana de sol nas praias da Zona Sul. Com o dinheiro que arrecadava ajuda sua mãe, comprava cadernos, livros e juntava o pouquinho que sobrava para um dia comprar tênis especiais para prática de corridas. Era um dos poucos jovens de sua região que lia com perfeição e que era ótimo em matemática.
Por sinal,seu talento em matemática chamava a atenção dos chefões do tráfico que insistiam em chamá-lo para trabalhar junto com eles como uma espécie de tesoureiro. Mas ele de forma inacreditável negava o convite sem despertar a ira deles.
Ele sempre falava que queria ser exceção. Se no morro todo mundo era bandido, ele não ia ser. Se todo mundo não sabia ler, ele ia saber com excelência. Se todos usassem drogas ele seguir a vida em pró da saúde e do esporte.E seguindo esta lógica ele superava-se a cada dia o que só alimentava o seu sonho de ser médico e/ou maratonista.
No dia 2 de outubro, seu lado atleta falou mais alto que seu lado médico e ele não trabalhou, não estudou. Tirou o dia para ficar concentrado na praia de Copacabana aguardando a escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Sonhava com a escolha do Rio, pois acreditava que poderia ter a chance de competir na Cidade Maravilhosa.
Acho que nenhum dia foi tão longo para ele quanto o 2 de outubro de 2009. E quanto mais próximo ficava da anunciação, mais ele sofria.
Eis que na TV, um gringo de cabelos brancos deu a esperava notícia: O Rio iria sediar as Olimpíadas de 2016.
Neste momento seu lado maratonista praticamente anulou seu lado médico. Ele gritava,chorava e sambava ao som da bateria do Salgueiro. Teve vontade de ir correndo de Copacabana até a Rocinha para já ir treinando, no entanto, chegando no Leblon seus pés descalços não aguentaram e ele pegou um ônibus.
Ao chegar à favela, iluminou o morro com seu sorriso. Sua mãe tinha medo dele se iludir, afinal sabia que dificilmente seu filho ia ter a oportunidade de ser descoberto pelo esporte, mas naquele dia, ela não falou nada e deixou seu menino sorrir.
Uma semana depois, uma operação policial a fim de começar a eliminar a criminalidade na cidade eleita como sede das Olimpíadas de 2016, invadiu a Rocinha de madrugada. O morro que estava até com uma atmosfera melhor, uma vez que fora convencido por um menino raquítico que aquele lugar ia melhorar por causa das Olimpíadas, voltava a viver o terror da realidade.
A noite escura foi iluminada não mais por um sorriso, mas por tiros de fuzis.
Na manhã seguinte, os moradores viram pela janela o resultado na noite de terror. Inúmeros corpos estavam espalhados pelos corredores estreitos da favela. A fúnebre cena e o medo de ainda não ter acabado impedia que muitos saíssem de seus barracos.
O único som que abalava o silêncio daquele lugar era o choro de uma mulher, um choro que a Rocinha não escutava há 14 anos. Era o choro de Maria Ribeiro que em total desalento abraçava o corpo de um rapaz alto, raquítico, de pele morena escura e cabelos lisos e negros. O rapaz atirado no chão era André Ribeiro – 15 anos. O quinto, único e último filho de Maria Ribeiro – 27 anos que perdeu a sua vida por conseqüência das primeiras medidas para melhorar o Rio de Janeiro – a sede dos Jogos Olímpicos que André tanto sonhava em participar.
Vento
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