Não sou do tempo em que se nascia em casa, tempo de parteira e tempo de espera. Já nasci nos 80, época mais recente, em que as mães saíam de casa rumo ao hospital para voltar com mais um integrante da família. O dia marcado para o nascimento, aliás, é um daqueles momentos inesquecíveis, que marcam a vida da gente. Bolsas de roupa, fraldas, mãe, pai, apreensão. Momento final: o bebê. Ou momento primeiro, olhando com os olhos de quem vê ali uma vida nova, ponto de partida.
Mas não é sobre bebês ou tampouco parteiras que vou falar no texto que segue. Queira o leitor compreender que, estando fora de casa, bate agora uma falta daquela coisa boa do lar. Quarto, sala, cozinha. A casa da gente guarda uma vida própria. Cheiro de casa, gosto de casa. Eu sinto que, dentro dos limites impostos pelas paredes desse lugar único e particular, eu sou eu, você é você e ela pode até ser ele, se assim quiser. Dentro de casa todo mundo é invisível – para o mundo – e transparente para si próprio.
O dia de trabalho acaba, fecho a porta. Quero deixar pra fora o espanto da liberdade, o cansaço das coisas vividas. Acontece que – fato imutável – tudo isso tem vida própria e, pelo buraco da fechadura ou na sola do sapato, tudo entra comigo. Inevitável. Eles entram em fila. As conversas pendentes, textos pra ler, a bronca do chefe, o salto do sapato novo quebrado... Tudo se mistura e, no final do dia, vai pra casa comigo.
O que foi bom, o que formou no rosto um sorriso grande naquele dia, eu guardo na caixa de madeira do lado da cama. Do lado da cama. Deve estar perto para que eu possa sempre lançar mão quando o mais difícil na noite é ter bons sonhos. Abro a caixa, escolho um. O telefonema da amiga da escola, o olhar querendo dizer muito, a sobremesa tão esperada durante toda a semana... Não, não! Hoje vou escolher o oi da saída do elevador. Coloco debaixo do travesseiro e durmo melhor. Para quem pensava que passava invisível aos olhos dele, ganhar um oi despretensioso teria mesmo que valer um sonho.
Um sonho ou até dois, um conjunto deles. Durante toda aquela semana não precisei da caixa de madeira. Ela só se enchia cada vez mais das coisas boas.
Essa é a magia da casa, pra mim. Saber que precisando ou não do afago certo que ela dá, ela vai estar ali. Imóvel, literalmente. É como a minha caixa que, como um consolo, eu vejo todo dia e sei que se os fantasmas chegarem – esses que se escondem debaixo da cama, na porta do armário e na sombra da parede – ela vai estar ali, e meu medo vai passar. Ela cala, ela fala. A casa.
Mas não é sobre bebês ou tampouco parteiras que vou falar no texto que segue. Queira o leitor compreender que, estando fora de casa, bate agora uma falta daquela coisa boa do lar. Quarto, sala, cozinha. A casa da gente guarda uma vida própria. Cheiro de casa, gosto de casa. Eu sinto que, dentro dos limites impostos pelas paredes desse lugar único e particular, eu sou eu, você é você e ela pode até ser ele, se assim quiser. Dentro de casa todo mundo é invisível – para o mundo – e transparente para si próprio.
O dia de trabalho acaba, fecho a porta. Quero deixar pra fora o espanto da liberdade, o cansaço das coisas vividas. Acontece que – fato imutável – tudo isso tem vida própria e, pelo buraco da fechadura ou na sola do sapato, tudo entra comigo. Inevitável. Eles entram em fila. As conversas pendentes, textos pra ler, a bronca do chefe, o salto do sapato novo quebrado... Tudo se mistura e, no final do dia, vai pra casa comigo.
O que foi bom, o que formou no rosto um sorriso grande naquele dia, eu guardo na caixa de madeira do lado da cama. Do lado da cama. Deve estar perto para que eu possa sempre lançar mão quando o mais difícil na noite é ter bons sonhos. Abro a caixa, escolho um. O telefonema da amiga da escola, o olhar querendo dizer muito, a sobremesa tão esperada durante toda a semana... Não, não! Hoje vou escolher o oi da saída do elevador. Coloco debaixo do travesseiro e durmo melhor. Para quem pensava que passava invisível aos olhos dele, ganhar um oi despretensioso teria mesmo que valer um sonho.
Um sonho ou até dois, um conjunto deles. Durante toda aquela semana não precisei da caixa de madeira. Ela só se enchia cada vez mais das coisas boas.
Essa é a magia da casa, pra mim. Saber que precisando ou não do afago certo que ela dá, ela vai estar ali. Imóvel, literalmente. É como a minha caixa que, como um consolo, eu vejo todo dia e sei que se os fantasmas chegarem – esses que se escondem debaixo da cama, na porta do armário e na sombra da parede – ela vai estar ali, e meu medo vai passar. Ela cala, ela fala. A casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário