Depois de sobrevoar boa parte das minhas terras hoje à tarde, pisei em casa e pude ler o sagrado jornal. Com uma sensação de dever não cumprido porque mais uma vez não consegui vislumbrar toda a minha propriedade, o meu crescente pedaço de “chão do mundo”. Um único dia já não é mais suficiente, agora preciso de dois para fiscalizar os meus protegidos pés de laranja. Mais alguns anos e em três dias já ficaria apertado.
Eu tenho uma espécie de fixação pela propriedade, admito – isso é coisa comum –, uma fixação que começou ainda nos tempos do movimento. O movimento era o dos sem terra e eu, um dos seus inúmeros integrantes. Agora eles são, para mim, como pragas que se multiplicam. Pragas para as quais ainda não inventaram um inseticida específico. Eu era um deles, comecei de baixo, mas passados dois meses eu já freqüentava o alto escalão. No topo só chegam os mais ambiciosos e essa qualidade transborda em mim. Minha avó sempre dizia: “como você é articulado, menino!”; Uma pena ela ter visto que, na verdade, eu sou é um grande articulista...
Já com dois anos de movimento e algumas ocupações – nem sempre de terras improdutivas – no histórico, eu consegui comprar a minha primeira fazenda. Permaneci no movimento e contratei meu primeiro “laranja”, estava formado um verdadeiro ciclo vicioso.
O ciclo: eu comprava mais terras, quase todas as propriedades vizinhas da antiga fazenda hoje me pertencem, continuava no movimento e empregava mais “laranjas”. No entanto, com dez anos de movimento eu sumi do Brasil. Percorri os estados Unidos e a Europa e fui esquecido pelos companheiros de cá. Graças a deus, esquecido, era tudo o que eu queria. Saí do movimento e, por ironia, troquei meus 15 “laranjas” por incontáveis laranjeiras.
O motivo de ser deste registro não é qualquer arrependimento passado, mas sim a irritação causada por uma reportagem.Tenho dinheiro, terra, família. Já plantei muitas, mas muitas árvores, mesmo que todas iguais, e não escrevi nenhum livro, nem nunca quis. Ainda assim arrumam um jeito de tirar meu sossego.
A página 8 do jornal de hoje me mostrou que lá de Washington (que eu já visitei quando larguei o movimento) a Senadora Marina Silva pretende modificar a CPI dos assuntos agrícolas. Graças à minha imunidade latifundiária, até então eu estava tranqüilo, mas o problema é que a tal senhora de óculos quer incluir o que ela chamou jocosamente de “ruralistas” nas investigações. Não gosto dessa expressão, mas até onde eu sei, ela se refere ao grupo do qual faço parte. Mas, pensando melhor eu pergunto a vocês: Será que o Brasil está realmente mudando? E por quê, logo agora que eu me dei bem?
Eu tenho uma espécie de fixação pela propriedade, admito – isso é coisa comum –, uma fixação que começou ainda nos tempos do movimento. O movimento era o dos sem terra e eu, um dos seus inúmeros integrantes. Agora eles são, para mim, como pragas que se multiplicam. Pragas para as quais ainda não inventaram um inseticida específico. Eu era um deles, comecei de baixo, mas passados dois meses eu já freqüentava o alto escalão. No topo só chegam os mais ambiciosos e essa qualidade transborda em mim. Minha avó sempre dizia: “como você é articulado, menino!”; Uma pena ela ter visto que, na verdade, eu sou é um grande articulista...
Já com dois anos de movimento e algumas ocupações – nem sempre de terras improdutivas – no histórico, eu consegui comprar a minha primeira fazenda. Permaneci no movimento e contratei meu primeiro “laranja”, estava formado um verdadeiro ciclo vicioso.
O ciclo: eu comprava mais terras, quase todas as propriedades vizinhas da antiga fazenda hoje me pertencem, continuava no movimento e empregava mais “laranjas”. No entanto, com dez anos de movimento eu sumi do Brasil. Percorri os estados Unidos e a Europa e fui esquecido pelos companheiros de cá. Graças a deus, esquecido, era tudo o que eu queria. Saí do movimento e, por ironia, troquei meus 15 “laranjas” por incontáveis laranjeiras.
O motivo de ser deste registro não é qualquer arrependimento passado, mas sim a irritação causada por uma reportagem.Tenho dinheiro, terra, família. Já plantei muitas, mas muitas árvores, mesmo que todas iguais, e não escrevi nenhum livro, nem nunca quis. Ainda assim arrumam um jeito de tirar meu sossego.
A página 8 do jornal de hoje me mostrou que lá de Washington (que eu já visitei quando larguei o movimento) a Senadora Marina Silva pretende modificar a CPI dos assuntos agrícolas. Graças à minha imunidade latifundiária, até então eu estava tranqüilo, mas o problema é que a tal senhora de óculos quer incluir o que ela chamou jocosamente de “ruralistas” nas investigações. Não gosto dessa expressão, mas até onde eu sei, ela se refere ao grupo do qual faço parte. Mas, pensando melhor eu pergunto a vocês: Será que o Brasil está realmente mudando? E por quê, logo agora que eu me dei bem?
Jean Baptiste
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