...is a fake smile and dead eyes. Pensei por dois segundos sobre esta frase. Já vi muitas coisas nos famosos “Quem sou eu” do Orkut. Às vezes encontro descrições detalhadas, outras vezes uma trilha sonora, uma declaração de um amigo ou até mesmo um espaço vazio que significa um bem-humorado “Tire suas próprias conclusões!”. Acredito que a sua primeira reação no meu lugar fosse achar que o dono desse perfil é mais um integrante do moderno e peculiar grupo que se auto-intitula “emos”. Também poderia pensar que se trata de alguém meio deprimido, triste com a vida, desiludido com o mundo – o que, cá entre nós, seria um derivado da primeira suposição. Ou talvez eu esteja completamente errada e você simplesmente dissesse: É só mais uma frase de efeito típica de Orkut.
Bem, com certeza não era nada disso. Olhei para o lado e estudei calmamente suas feições. Ela sorriu, inclinou a cabeça levemente de lado e deu uma piscadinha mais demorada. Sempre que nos surpreendemos as duas observando o nada, ela repete este mesmo ritual. Uma, duas, três vezes no mesmo dia. Voltei olhar para a tela do computador, os olhos ainda percorrendo as mesmas duas linhas. A princípio pensei que fosse um trecho de alguma das músicas que estão escritas nas páginas de seu caderno. Não foram raras as aulas em que a flagrei com a expressão pensativa enquanto as escrevia. As sobrancelhas franzidas, o olhar distante, o cabelo liso e cor de mel, sempre religiosamente dividido ao meio, cobrindo-lhe quase todo o rosto. A pele, branquíssima, deixando mais evidentes as rugas de quem se esforça pra lembrar-se de alguma coisa. Provavelmente seria uma canção de alguma das bandas que admira, boa parte delas lembrada nos inúmeros bottons ela que carrega na mochila preta, sua companheira fiel deste o início da vida universitária. Coldplay, Snow Patrol, Beatles, Keane. Caramba! Mas como é difícil descobrir coisas de alguém cujo gosto musical passa tão longe dos funks e pagodes de hoje em dia! Aposto que se fosse a letra de um “Sorriso Maroto” da vida, todo mundo ia saber. Escrevi convicta a frase no “Vagalume”, mas nenhum dos resultados me indicou que pudesse ser de fato uma música.
Ah, deixe-me explicar uma coisa antes que você tenha a impressão errada. Escrever músicas no caderno não impede que ela preste atenção em cada palavra dita pelo professor. Diferente do que possa parecer, ela é daquelas pessoas que são responsáveis até nos momentos mais irresponsáveis de ser. Vez ou outra levanta o rosto, faz um comentário e sempre, sempre mesmo, balança a cabeça pra cima e para baixo, um sinal discreto de concordância. Não conheço muitos estudantes que não se assustem ao ter que apresentar um trabalho, um seminário, uma monografia. Meu conselho para todos: olhe para ela. Se você não tiver certeza do que está falando, olhe fixamente para ela. Por experiência própria posso dizer que nada é mais estimulante do que um rosto tranquilo que, silenciosamente, lhe diz para seguir em frente.
Bem, mas não vamos fugir do assunto. Continuei fazendo minhas pesquisas para saber do que se tratava a bendita frase. Enquanto procurava, reparei em um anúncio no cantinho da página anunciando o início de uma nova série de TV. É... por que não? Se não se tratava de uma música, podia ser algo relacionado com algum dos muitos seriados que ela acompanha. Ah, mas se fosse isso, eu ia demorar. Já a ouvi comentar sobre pelo menos uns vinte programas. É fã número 1 do House, não perde um episódio de Prison Break, é uma das que tenta desvendar os mistérios de Lost¸ e ainda guarda tempo para mergulhar nos casos assombrosos de Supernatural. Gastei alguns minutos nessa linha de pensamento, mas por fim desisti. Se com as músicas era complicado, eu não queria nem imaginar como seria com os seriados.
Comecei a me sentir meio idiota. Não eram as músicas, não eram as séries. O que sobrava? Futebol? Ela torce pelo Fluminense, o que não era uma grande informação. Sabe coisas sobre jogadores de times europeus que eu nem conheço, o que tão pouco me ajudava. Fiquei inconformada. Recusei-me a acreditar que se tratava de uma frase apenas. Apelei para minha última saída, talvez a mais óbvia de todas. Joguei a frase solta no Google e esperei para ver o que aparecia. Cheguei a um site. A página que abriu me deu a esperança de que estivesse no caminho certo. Confesso que não entendi muito bem do que se tratava. Rolando a tela para baixo e para cima, cheguei a uma conclusão simples: era algo relacionado aos seriados.
Fiquei feliz pela descoberta. Continuei navegando pela Internet, fuçando novos perfis, lendo notícias, conversando no MSN. Voltei a olhar em volta e, novamente, encontrei seu olhar. Como era de costume ela sorriu, inclinou a cabeça e piscou os olhos. Pensei na frase mais uma vez. O melhor que eu posso lhe dar é um sorriso falso e olhos mortos. Abaixei a cabeça e segurei o riso. No final das contas, era realmente uma frase solta...
Bem, com certeza não era nada disso. Olhei para o lado e estudei calmamente suas feições. Ela sorriu, inclinou a cabeça levemente de lado e deu uma piscadinha mais demorada. Sempre que nos surpreendemos as duas observando o nada, ela repete este mesmo ritual. Uma, duas, três vezes no mesmo dia. Voltei olhar para a tela do computador, os olhos ainda percorrendo as mesmas duas linhas. A princípio pensei que fosse um trecho de alguma das músicas que estão escritas nas páginas de seu caderno. Não foram raras as aulas em que a flagrei com a expressão pensativa enquanto as escrevia. As sobrancelhas franzidas, o olhar distante, o cabelo liso e cor de mel, sempre religiosamente dividido ao meio, cobrindo-lhe quase todo o rosto. A pele, branquíssima, deixando mais evidentes as rugas de quem se esforça pra lembrar-se de alguma coisa. Provavelmente seria uma canção de alguma das bandas que admira, boa parte delas lembrada nos inúmeros bottons ela que carrega na mochila preta, sua companheira fiel deste o início da vida universitária. Coldplay, Snow Patrol, Beatles, Keane. Caramba! Mas como é difícil descobrir coisas de alguém cujo gosto musical passa tão longe dos funks e pagodes de hoje em dia! Aposto que se fosse a letra de um “Sorriso Maroto” da vida, todo mundo ia saber. Escrevi convicta a frase no “Vagalume”, mas nenhum dos resultados me indicou que pudesse ser de fato uma música.
Ah, deixe-me explicar uma coisa antes que você tenha a impressão errada. Escrever músicas no caderno não impede que ela preste atenção em cada palavra dita pelo professor. Diferente do que possa parecer, ela é daquelas pessoas que são responsáveis até nos momentos mais irresponsáveis de ser. Vez ou outra levanta o rosto, faz um comentário e sempre, sempre mesmo, balança a cabeça pra cima e para baixo, um sinal discreto de concordância. Não conheço muitos estudantes que não se assustem ao ter que apresentar um trabalho, um seminário, uma monografia. Meu conselho para todos: olhe para ela. Se você não tiver certeza do que está falando, olhe fixamente para ela. Por experiência própria posso dizer que nada é mais estimulante do que um rosto tranquilo que, silenciosamente, lhe diz para seguir em frente.
Bem, mas não vamos fugir do assunto. Continuei fazendo minhas pesquisas para saber do que se tratava a bendita frase. Enquanto procurava, reparei em um anúncio no cantinho da página anunciando o início de uma nova série de TV. É... por que não? Se não se tratava de uma música, podia ser algo relacionado com algum dos muitos seriados que ela acompanha. Ah, mas se fosse isso, eu ia demorar. Já a ouvi comentar sobre pelo menos uns vinte programas. É fã número 1 do House, não perde um episódio de Prison Break, é uma das que tenta desvendar os mistérios de Lost¸ e ainda guarda tempo para mergulhar nos casos assombrosos de Supernatural. Gastei alguns minutos nessa linha de pensamento, mas por fim desisti. Se com as músicas era complicado, eu não queria nem imaginar como seria com os seriados.
Comecei a me sentir meio idiota. Não eram as músicas, não eram as séries. O que sobrava? Futebol? Ela torce pelo Fluminense, o que não era uma grande informação. Sabe coisas sobre jogadores de times europeus que eu nem conheço, o que tão pouco me ajudava. Fiquei inconformada. Recusei-me a acreditar que se tratava de uma frase apenas. Apelei para minha última saída, talvez a mais óbvia de todas. Joguei a frase solta no Google e esperei para ver o que aparecia. Cheguei a um site. A página que abriu me deu a esperança de que estivesse no caminho certo. Confesso que não entendi muito bem do que se tratava. Rolando a tela para baixo e para cima, cheguei a uma conclusão simples: era algo relacionado aos seriados.
Fiquei feliz pela descoberta. Continuei navegando pela Internet, fuçando novos perfis, lendo notícias, conversando no MSN. Voltei a olhar em volta e, novamente, encontrei seu olhar. Como era de costume ela sorriu, inclinou a cabeça e piscou os olhos. Pensei na frase mais uma vez. O melhor que eu posso lhe dar é um sorriso falso e olhos mortos. Abaixei a cabeça e segurei o riso. No final das contas, era realmente uma frase solta...
Selene
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