O acervo dele é imenso. E a cada dia ele adiciona mais um item a sua coleção. As pessoas estupefatas, aos milhares, admiram a imensa coletânea. Não apenas admiram como também participam dos investimentos do proprietário. Cada um doa a sua contribuição, e é necessário apenas preencher um pequeno formulário.
Desse modo, mais ou menos, que tudo começa. As pessoas o conhecem por meio um amigo em comum ou um membro da família, já fisgado pela ostentação do novo companheiro. Sua fórmula de sedução é antiga, mas a vestimenta é nova. De modo que é aceito como novidade, conforme a máxima “nada se cria, tudo se copia”. Cada vez mais ele reúne membros para sua seita, apesar da propaganda não ser tão grande quanto à dos concorrentes.
Porém, às vezes, o importante nem é o produto, mas o vendedor. Uma boa lábia convence homens solteiros a comprarem brincos caros para as pretensas futuras namoradas e mulheres a investirem em cremes redutores de medidas. O livreiro é esperto, digamos assim, bom de lábia. Ele no fundo quer apenas vender seu produto, mas oferece tantas outras coisas além do objeto, que nos convence que suas pretensões são outras.
Após recolher as suas informações pessoais, ele seduz as pessoas com notícias, anúncio de eventos e apresentação de estatísticas. Manipula quem gosta de fazer listas e os que apreciam compartilhar “conhecimento” com seus semelhantes. Poderíamos chamá-lo de produtor cultural, já que ele organiza um ambiente para as pessoas poderem discutir sobre os livros e autores, escrever opiniões e dar dicas de leitura. O livreiro nos remete a personagens já conhecidos. A imagem de um estante preenchida por capas de livros, com conteúdo virtual, é como um novo álbum de figurinhas. Os seguidores do livreiro exalam a vaidade de quem apresenta uma coleção de selos raros. O produtor reúne membros da equipe com 200 títulos e outros apenas com sete, as pessoas se sentem sábias ou ignorantes em sua presença. O poder do livreiro é ínfimo comparado ao seu amigo turco, mais popular e sedutor. Mas, sua força está no desejo de posse das pessoas, que no fim das contas é a arma de toda a concorrência.
O livreiro pretende subir alguns degraus na próxima semana durante a XIV Bienal do Rio de Janeiro e, assim, se juntar a demanda dos colegas de compartilhamento de vídeos, fotos, músicas etc. Mas como ele é muito vaidoso intelectualmente, ele só quer saber o que você já leu, o que tem a dizer sobre o livro e o que poderá emprestar (?) e não mais que isso. Um clube de leitura e opiniões de quem entende do assunto no meio do mar de verborragia “pseudo-inteligente” dos seus membros.
Raposa do Pequeno Príncipe
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