segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Gente boa

É interessante ver o como virou “modinha” as pessoas escreverem e demonstrarem sua indignação sobre a era de banalização do amor que estamos vivendo.

Quase sempre recebo um e-mail sobre o assunto, escuto conversas nas ruas sem contar dos inúmeros convites que recebo para participar de comunidades do Orkut com o título “Eu te amo não é bom dia”, que por sinal é a frase favorita dos mais engajados na luta contra essa banalização.

Inicialmente, gostaria de lembrar que é óbvio que “eu te amo” não é “bom dia”. Caso contrário, só amaríamos as pessoas pela manhã, quando na verdade sabemos que ainda costuma-se amar mais a noite.

Calma gente, eu sei que no comentário acima eu levei a frase muito ao pé da letra. Sei muito bem que ela é uma metáfora sobre fato de ultimamente as pessoas falarem que amam qualquer um, “quase” da mesma forma que, dão “bom dia” para inúmeras pessoas desconhecidas.

Gostaria de ressaltar que é “quase da mesma forma” uma vez que nunca vi nenhuma pessoa sã sair dizendo “eu te amo” para o padeiro, o leiteiro, o porteiro e o balconista da farmácia da mesma forma que educadamente dizem “bom dia” para essas figuras do cotidiano. Ou seja, acredito que você pode até duvidar se o que a pessoa sente é amor ou não, mas pode ter certeza que existe um mínimo de admiração, da arte da pessoa que sente pele pessoa merecedora de tamanho afeto.

Um exemplo disso é amor que fãs sentem por seus ídolos. Muitas vezes as fãs nunca viram seu ídolo pessoalmente, nunca conversaram, mas conhecem sua história de vida, admiram sua personalidade e por isso gritam sem nenhum pudor seu sentimento de amor para todo mundo.

Não sou defensora de nenhum movimento ao estilo “vamos amar desconhecidos”; simplesmente eu prefiro não julgar se as pessoas realmente amam ou estão falando por falar. Acho muito complicado medir a intensidade do sentimento alheio e por isso, prefiro não condenar ninguém.

Além disso, não vejo tanto problema ao ver palavras de amor sendo ditas ao léu. Levando em consideração o raciocínio do jogo do contente, antes palavras de amor do que palavras de ódio.O que importa é ver ela sendo dita em um bom sentido, para pessoas que de alguma forma merecem.

Porém, existem outras expressões de carinho, palavras que deveriam ser utilizadas apenas para pessoas que gostamos (independente da intensidade) sendo usadas como eufemismos e/ou desculpas, e isso muito me preocupa.

Um grande exemplo disso é um dos diálogos mais utilizado nas boates:


Cena 1 : Homem acha mulher bonita e tenta lhe dar um beijo.

Cena 2: Mulher foge do beijo.

(Homem) - Você não achou me achou bonito?

(Mulher) - Ah.. você é gente boa mas....



Na situação acima, a mulher nunca viu o cara e as únicas palavras que escutou dele foram “Você não achou me achou bonito?”. Sendo assim, eu me pergunto sobre quais argumentos ela pode afirmar que ele é gente boa?

É nítido que ela só falou isso, pois não teve a coragem de dizer que ele é feio ou então porque precisava de uma desculpa para não beijá-lo. Ou seja, ou utilizou como um pretexto ou como um eufemismo.

Antigamente, “gente boa” poderia ser tanto aquela pessoa que você conhece há anos, quanto aquela que você conhece há um dia, mas que tem um papo bom, bom humor e que te cativou.Dava orgulho ser tachada como “gente boa”.

Já, hoje em dia, quando me chamam de gente boa já suspeito que ou estão me chamando de feia, ou então estão fazendo um comentário do tipo: “até que ela é gente boa...”.Deu para perceber que essa mudança se sentido faz a gente começar a duvidar dos melhores dos elogios ?

Longe de mim, querer fazer um manifesto sobre a banalização do “gente boa”,até porquê em momento algum acho que o problema que ocorre com ele seja esse.

Ele de fato esta sendo utilizado de forma trivial, mas como falei acima não vejo problema nenhum nisso. É uma qualidade boa sendo disseminada. Quem dera todas as pessoas do mundo fossem “gente boa”.

O grade problema, na minha opinião, é ver uma característica tão bonita sendo utilizada de forma tão negativa.
Vento

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