segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Gente boa

Eu conheci ele aos 15 anos. Naquela época, quando as pessoas ainda dançavam juntinhas musica lenta nas festas. O nome dele era Carlos Eduardo, mais conhecido como Kadu pela turma. Com 1, 64 de altura, ele até conquistava o coração de algumas menininhas, mas o meu não. Moreno, magrinho e bem chatinho. Tinha algo nele que eu não suportava, sabe quando o santo não bate?! Mas o que mais me intrigava em tudo isso é que quando estávamos falando sobre ele, sempre vinha alguém e mandava, Que Kadu? Ai eu, O mala! Ai a pessoa, Ah que isso, ele é gente boa! Como assim gente boa? Ele era um mala isso sim! Era aquela pessoa que quando te via, já vinha abraçando e dava um beijo no rosto. Só que dar um beijo no rosto para ele era beijar na trave. Ai como eu odiava isso! Ou quando eu estava fazendo a lista da minha festa e vinha a minha melhor amiga e falava: Convidou o Kadu? Ai eu, Qual Kadu? O mala? Ai ela, Ahh que isso ele é tãoooo gente boa. Cara, fala sério? O que é ser gente boa para as pessoas hoje em dia? Todo mundo é gente boa?! Quer dizer todo mundo pode ser, mas o Kadu não! Ele não pode, ele é um chato, que se acha seu best, mesmo te conhecendo a apenas uma hora. Tive que conviver com esse meu “suposto” amigo por muito tempo, quase toda a minha adolescência. Ia ao inglês, ele tava lá. Ia em um churrasco, ele tava lá. Ia nas olimpíadas da MINHA escola, isso mesmo, ele não estudava no mesmo colégio que eu, e ele tava lá! AHHHH! Ele era onipresente, nunca vi uma pessoa estar em todos os lugares ao mesmo tempo! Meu deus, ele me persegue! E quanto mais eu via o Kadu, mas raiva eu tinha dele! Eu não sei o porquê de tanto ódio. Realmente, ele nunca tinha me feito nada. Mas a presença dele me irritava. Não conseguia passar alguns segundos perto dele, porque ele sempre vinha com aquela voz mole de eu sei seduzir. E eu pensava: Não, você não me seduz nem um pouco! Conversava, disfarçava e sai correndo para bem longe. Acho que esse era o maior problema dele, faltava senso. Porque cara, quem não percebe quando uma pessoa atravessa a rua para não falar com você e, mesmo assim, você dá aquele berro do outro lado só para chamar a atenção da pessoa?! A resposta você já imagina?! Sim o Kadu, ele não percebia. Na verdade, ele não tinha percepção de nada. Depois de uns quatro anos disso, desisti! Ele me venceu! Não agüentava mais essa situação de me sentir a única pessoa no mundo que não gostava do Kadu! Resolvi parar de evita-lo e quando menos esperava já conseguia manter um papo de um minuto com ele. Recorde, claro! Comecei a perceber que o problema era meu! Eu que era uma pessoa insensível e não via o quanto legal era o Kadu! Eu que era uma bruxa, uma vaca, uma invejosa! Mas o melhor de tudo isso foi que percebi que a ironia sempre esteve na minha vida: Fala sério neh gente, ele é tãooo gente boa!
Vivianne Medeiros

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