segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Gente boa

“Fulano é bacaninha! Muito gente boa! Muito legal!” Essa é a frase que ela diz sempre que me apresenta alguém que eu não conheço. Ela também é muito gente boa, gente fina. Sempre sorrindo e cantarolando. Sempre conversando e brincando porque “a vida é muito dura e a gente tem que rir e brincar pra aliviar o estresse e esquecer os problemas”.

Como mora longe do trabalho, acorda cedo para chegar cedo, arrumar as coisas e deixar tudo em ordem. “Eu odeio bagunça! Vai que alguém importante chega aqui!? Vai pensar o quê!? Que eu sou uma porca.” E, mesmo sendo uma das primeiras a chegar, sempre sai tarde para não pode deixar de atender ninguém.

O pessoal de lá “se amarra” nela. Não só pelo trabalho que ela faz lá, mas também por sua sinceridade, por seu jeito carinhoso e sua atenção. Conhece todos pelo nome (até os novatos) e sabe o que cada um gosta ou desgosta. Chega silenciosa e discreta. Muitas vezes só percebemos sua passagem quando vemos o pedido em cima da mesa. Às vezes chegamos e o pedido costumeiro já está lá, esperando pela nossa chegada.

“Tá muito difícil conseguir emprego hoje e eu que não vou dar mole”. Por isso, enquanto trabalha ela se mantém séria. Mas lá na salinha onde fica ela pode relaxar: brinca com um, conversa com outra, marca uma saída com a terceira. É lá que ela recebe os colegas para bater um papo, conversar. Lá ela se sente à vontade para falar o que quiser (“mas nunca da vida dos outros”) e para vender Avon, Natura, Hermes, DeMillus... (“pra ter um dinheirinho por fora”)

É daquelas pessoas que saem falando e quando você percebe já sabe tudo sobre a vida dela. Em um mês trabalhando lá, descobri que ela teve um filho quando tinha 19 anos, depois disso casou de novo e teve mais um casal de filhos; já foi traída pelo marido atual, mas continua com ele afinal “ele é pai dos meus filhos”; já teve um amante... e gosta da sogra mais do que do marido. Adora um pagodinho, mas não bebe porque, pelos cálculos dela “com o dinheiro que ia gastar comprando cerveja, eu pago a prestação de alguma coisa pros meus filhos”.

Mas afinal de contas quem é ela? A copeira do meu trabalho, verdadeira “gente boa”.
Mônica Sampaio

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