terça-feira, 29 de setembro de 2009

Gente boa

Cerca de alguns anos conheci um cara que eu chamaria pelo termo “gente boa”. Isso faz aproximadamente uns sete anos. Quando o conheci, obviamente, era mais tímido e não demonstrava confiança alguma a mim. Não se aproximava muito, normalmente não demonstrava emoções; só se manifestava para pedir alguma coisa. De fato, como esperar que alguém que acaba de chegar ao seu cotidiano já confie inteiramente em você?

Com o tempo se revelou um grande parceiro. Mesmo em tempos difíceis, daqueles que desanimam qualquer um, ele não saía do lado. Fosse chuva, ventania, sol forte, ele não arredava o pé de seu posto! Seu único ponto fraco eram os raios e trovões, o que nunca teve vergonha de admitir. Mas, independente do medo, estava ao meu lado. Quando eu caía por alguma mazela selvagem, era certo que até na enfermaria ele faria questão de estar.

E companheiro de guerra que se preze sempre tem história pra contar né? Lembro-me quando ele foi atropelado e tive de carregá-lo no lombo selva adentro até chegarmos ao acampamento. Houve outra vez em que o fizeram de refém e, para salva-lo, tivemos de traçar um plano de resgate audacioso, onde acabamos perdendo dois soldados. Sem esquecer de quando tivemos que iniciar operações de busca na selva porque ele havia se perdido; quando foi alvejado nas costas e tivemos de operá-lo para retirada do corpo estranho; ou quando, juntos, percorremos e mapeamos toda zona de batalha próxima ao nosso acampamento.

O engraçado é que com o tempo fica muito fácil saber das reações de um cara tão presente assim. E confesso que não levei muito tempo para começar a reconhecer suas atitudes. Sempre de poucas palavras, quando abaixa uma sobrancelha e move uma orelha, é dúvida. Estranhamento e curiosidade significam apenas uma franzida na testa, aí é uma questão de interpretação. Normalmente a curiosidade é seguida de uma mexida nas orelhas, mas não é sempre. Felicidade significa olhos esbugalhados e uma leve “sorrisada”, porque eu não consideraria o sorriso dele um sorriso de tão irrisório. Quando a empolgação é muita parece até que tem Parkinson de tanto que treme e chacoalha. Ainda mais com suas bochechas grandes, estas expressões acabam ficando engraçadas quando as identifico.

Não há exatamente como definir o que esse cara significa pra mim. Não só um amigo, um parceiro, mas também um irmão, um filho. Como já disse, ele é de poucas palavras, e admito que a maior parte de nossas conversas são telepáticas. Mas fazer o que? Quando sento e acendo um cigarro para pensar ele senta ao meu lado e não diz nada. Não precisa dizer. E olha que dizem por aí: gente boa, gente boa... gente mesmo não é boa nada. Bom mesmo é meu fiel escudeiro Sargento.
Rambo

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