O diacho já era difícil: ler. Aquele bando de letrinha, tudu junto, coladinho, exprimido que nem fosse pau-de-arara no primeiro dia da colheita. O tal do texto então, vixe!, era pior. Mas o professor disse-que-disse que eu tinha que aprender mais de lê e escrevê pra conseguir a tal da aposentaduria. Eu não entendi direito não, mas o professô dotô falô que é bão, mas bão mesmo porque a gente ganha mermo sem trabalhar e eu não sou cabra de ficar recusando dinheiro assim que sobrando num tá...
Comecei e já fiquei cabreiro. O nome do “homi” era Fernando. Até aí, vá lá, porque o nome do pequinininho do seu João lá da obra também é. Mas depois tinha escrito lá: Sabino. Tinha, sim senhor que eu vi. Foi nessa aí que eu encasquetei. Sabino, cê sabe, lá na minha terra é um pé de planta assim amaralinho, meio vexado, miúdo, que quase num dá, mas não é que dá.
Agora onde já se viu dar um nome assim tão garboso desse, Fernando, e botar do lado Sabino. Vá lá que seja, aqui na cidade grande eu já vi uns nomes abirobados que só: as minha vizinhas lá em casa mermo, uma é Madeinusa, e a outra Chevrolete. Mas é da Silva. Da Silva eu conheço. Da Silva tem um monte que tem. Agora, Sabino? Resolvi que era miór deixar isso pra lá que eu ainda num tinha lido era nada.
“A laranja foi um dia inventada por um grande industrial americano, cujo nome prefiro”... Có-Có-Ricó!
Ta aí o galo. Logo no começo do meu Sabino. Se fosse uma, duas, vá lá, até umas cinco vezes eu tinha mareado e pronto. Mas o diacho do galo ficou cantando o tempo todo. Era eu abaixar a cabeça e o embestado começava:
“Fruta cítrica, suculenta e saborosa, ela começou sendo chupada às dúzias por este”... Có-Có-Ricó! Óie, e o pior é que ocê num acredita. Eu dô um doce pra quem adivinhar o nomi do professor. Filipi Pena. Eita, mas vai ter coincidência assim lá nus inferno!
“Com o correr dos anos o molecote virou moleque e o moleque virou”... Có-Có-Ricó! “Apaixonou-se pela filha do dono do”... Có-Có-Ricó!! Diacho, assim é que eu não vou sair do lugar. “Meteu-se em peripécias amorosas que já inspiraram dois”... Có-Có-Ricó! “Passou a vender laranjas. Como, porém”... Có-Có-Ricó!! “Pior foi a emenda que o soneto, no caso”... CÓ-CÓ-RICÓ!!!!!! ARRE, EU VOUDAR FIM NESSE GALO!
Antes de entregar o bicho ao Sete-Pele resolvi conversar com o maldito e pedir pra ele pará com essa apurrinhação:
- Ô seu frango, será que não dá pro senhor ir cantar de galo em outro lugar, não?
Mas não deu foi em nada, e eu que já tava fumando numa quenga resolvi de uma vez: o galeto ia morrer. Só faltava decidir como.
Primeiro, eu pensei no mermo que ocê: vou degolar o safado. Mas eu não tinha UMA machadinha que fosse pra contar história... Aí eu pensei então em esfolar o bicho. Mas ia ficar tudo breado e eu ainda ia ter que limpar.
Pensei em matar o desgraçado de rir, de susto e até de vergonha, mas isso ia demorar muito e eu ainda não tinha lido era nadica de nada. Tinha que ser uma coisa rápida. Por causa disso aí também que eu desisti de fazer um canja, se bem que a patroa até que ia gostar...
Eu quis dar um tiro, uma facada e até uma flechada no frangote, mas eu não tinha nem arma, muito menos arco-e-flecha. Tinha uma baladeira daquelas que você bota a pedra no meio e puxa, mas duvido que isso fosse dar cabo do enxerido. Ainda dava pra eu tentar afogá, queimá, enterrá e atropelá o bicho. Mas no fim, resolvi que, cabra macho que sô, eu ia era esganá o galo.
Saí e fui atrás dele. O fingido tava logo ali e num foi difícil de achar porque até sem eu tá mais lendo ele continuava dando uma de cantor. Olhei pro desgraçado e disse:
- Ô seu galeto egoísta dos diabos, ocê quer é acabar comigo! Por sua causa o professor vai ralhar com mais eu até cansar e eu num vô consegui aprendê lê nem escrevê. Num vo consegui minha aposentaduria, vo ficar burro, velho e pobre, sem um tustão no bolso, meus mínimo num vão ter o que comer e minha patroa é bem capaz de mi enxotar purque eu num presto pra nada. E o ocê nem se importa!
Óie, mas eu juro pelo meu santo Antônio dos cajueiro do rio são Francisco da Paraíba que di repente, num é que o bicho parou de cantar? Ficô me bisoiando com aqueles óio miudinhos assim que nem tivesse achado um milho no meio da terra e eu já que já tava era achando aquilo tudo muito estranho, num tinha idéia do que ia se suceder dipois. O tal do galo sentô ali mermo no meio do quintal,baxô o pesoço, colocô a cabeça no chã, abriu o bico e soltô assim baixinho que quase num deu pra ouvir:
- Có.
E bate a caçuleta. Vixe!
Comecei e já fiquei cabreiro. O nome do “homi” era Fernando. Até aí, vá lá, porque o nome do pequinininho do seu João lá da obra também é. Mas depois tinha escrito lá: Sabino. Tinha, sim senhor que eu vi. Foi nessa aí que eu encasquetei. Sabino, cê sabe, lá na minha terra é um pé de planta assim amaralinho, meio vexado, miúdo, que quase num dá, mas não é que dá.
Agora onde já se viu dar um nome assim tão garboso desse, Fernando, e botar do lado Sabino. Vá lá que seja, aqui na cidade grande eu já vi uns nomes abirobados que só: as minha vizinhas lá em casa mermo, uma é Madeinusa, e a outra Chevrolete. Mas é da Silva. Da Silva eu conheço. Da Silva tem um monte que tem. Agora, Sabino? Resolvi que era miór deixar isso pra lá que eu ainda num tinha lido era nada.
“A laranja foi um dia inventada por um grande industrial americano, cujo nome prefiro”... Có-Có-Ricó!
Ta aí o galo. Logo no começo do meu Sabino. Se fosse uma, duas, vá lá, até umas cinco vezes eu tinha mareado e pronto. Mas o diacho do galo ficou cantando o tempo todo. Era eu abaixar a cabeça e o embestado começava:
“Fruta cítrica, suculenta e saborosa, ela começou sendo chupada às dúzias por este”... Có-Có-Ricó! Óie, e o pior é que ocê num acredita. Eu dô um doce pra quem adivinhar o nomi do professor. Filipi Pena. Eita, mas vai ter coincidência assim lá nus inferno!
“Com o correr dos anos o molecote virou moleque e o moleque virou”... Có-Có-Ricó! “Apaixonou-se pela filha do dono do”... Có-Có-Ricó!! Diacho, assim é que eu não vou sair do lugar. “Meteu-se em peripécias amorosas que já inspiraram dois”... Có-Có-Ricó! “Passou a vender laranjas. Como, porém”... Có-Có-Ricó!! “Pior foi a emenda que o soneto, no caso”... CÓ-CÓ-RICÓ!!!!!! ARRE, EU VOUDAR FIM NESSE GALO!
Antes de entregar o bicho ao Sete-Pele resolvi conversar com o maldito e pedir pra ele pará com essa apurrinhação:
- Ô seu frango, será que não dá pro senhor ir cantar de galo em outro lugar, não?
Mas não deu foi em nada, e eu que já tava fumando numa quenga resolvi de uma vez: o galeto ia morrer. Só faltava decidir como.
Primeiro, eu pensei no mermo que ocê: vou degolar o safado. Mas eu não tinha UMA machadinha que fosse pra contar história... Aí eu pensei então em esfolar o bicho. Mas ia ficar tudo breado e eu ainda ia ter que limpar.
Pensei em matar o desgraçado de rir, de susto e até de vergonha, mas isso ia demorar muito e eu ainda não tinha lido era nadica de nada. Tinha que ser uma coisa rápida. Por causa disso aí também que eu desisti de fazer um canja, se bem que a patroa até que ia gostar...
Eu quis dar um tiro, uma facada e até uma flechada no frangote, mas eu não tinha nem arma, muito menos arco-e-flecha. Tinha uma baladeira daquelas que você bota a pedra no meio e puxa, mas duvido que isso fosse dar cabo do enxerido. Ainda dava pra eu tentar afogá, queimá, enterrá e atropelá o bicho. Mas no fim, resolvi que, cabra macho que sô, eu ia era esganá o galo.
Saí e fui atrás dele. O fingido tava logo ali e num foi difícil de achar porque até sem eu tá mais lendo ele continuava dando uma de cantor. Olhei pro desgraçado e disse:
- Ô seu galeto egoísta dos diabos, ocê quer é acabar comigo! Por sua causa o professor vai ralhar com mais eu até cansar e eu num vô consegui aprendê lê nem escrevê. Num vo consegui minha aposentaduria, vo ficar burro, velho e pobre, sem um tustão no bolso, meus mínimo num vão ter o que comer e minha patroa é bem capaz de mi enxotar purque eu num presto pra nada. E o ocê nem se importa!
Óie, mas eu juro pelo meu santo Antônio dos cajueiro do rio são Francisco da Paraíba que di repente, num é que o bicho parou de cantar? Ficô me bisoiando com aqueles óio miudinhos assim que nem tivesse achado um milho no meio da terra e eu já que já tava era achando aquilo tudo muito estranho, num tinha idéia do que ia se suceder dipois. O tal do galo sentô ali mermo no meio do quintal,baxô o pesoço, colocô a cabeça no chã, abriu o bico e soltô assim baixinho que quase num deu pra ouvir:
- Có.
E bate a caçuleta. Vixe!
Lois Lane
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