E ela saía andando arrastando as sandálias. Sempre na mesma direção. Sempre depois de me dizer tudo aquilo que eu já sabia que ia ouvir. A mão no queixo, mãos na nuca, o monólogo fluía. Mãos diretas, me apontava os defeitos. Surpresa minha seria se não fosse assim.
Boa gente mesmo ela dizia que eu só encontraria se não quisesse, despretensioso. Gente boa era mais fácil e mais comum. Contava um, dois, três, oito. Parava sempre antes do dez, não gostava de números redondos.
Certas pra mim eram as tardes em que o sol batia de lado no telhado e eu sabia que poderia me perder. Fechava os olhos, comemorava sozinho e em silêncio. Festa demais poderia ser sonho, tristeza demais poderia ser treva.
A gente é bom mesmo enquanto presta, isso eu aprendi. Enquanto dá almoço na hora, traz café pela tarde e dorme cedo, com a lua. Se muda, se vira episódio de série americana, sai do auge do querer, tira o clima da emoção. Clara sempre me dizia que era assim que me queria – e que nenhum cabelo penteado pro lado errado e roupa rasgada iriam mudar isso. Repetia sempre o discurso da cadeira, dos passos e do perfume antigo. Todos de cór.
E eu que era esperto, rapaz bonito de jaqueta de couro, não pensava em cair nas falas de moça sincera. Ela me leva discreta pelo desvio dos olhos e me fazia feito boneco na mão de criança. Criança malvada, às vezes. Boneco feliz, sempre.
Era eu – e todos me confirmam – era eu que deixava que ela me moldasse. Era fácil ser alguém nas mãos de quem sabe o que quer que o outro seja. Não recordo momento algum de medo, ausência ou desilusão. Qualquer espaço vazio em mim se completava com a palavra da boca de Clara. Palavra de quem sabe dizer.
A boa gente por aí até hoje diz que uma morte estúpida e violenta não era digna de alguém que usava tão bem o tempo que a vida lhe dava. Sofrimento e dor não combinavam com alguém que passara a vida toda a andar sobre sorrisos.
Eu – eu mesmo - já não sei o que digo, mas não acredito em motivos concretos. Quem sabe esteja morto o ideal de boa gente de Clara, inatingível, utópico. Não sei, mas sei que eu não consegui alcançá-lo. Não devo ser “tão gente boa assim”. Desisti das tardes ouvindo e das noites pensando. Quero que Clara me leia e me entenda, é a alternativa que agora me resta. Já não vivo – não mesmo - e digam à Clara que morri.
Boa gente mesmo ela dizia que eu só encontraria se não quisesse, despretensioso. Gente boa era mais fácil e mais comum. Contava um, dois, três, oito. Parava sempre antes do dez, não gostava de números redondos.
Certas pra mim eram as tardes em que o sol batia de lado no telhado e eu sabia que poderia me perder. Fechava os olhos, comemorava sozinho e em silêncio. Festa demais poderia ser sonho, tristeza demais poderia ser treva.
A gente é bom mesmo enquanto presta, isso eu aprendi. Enquanto dá almoço na hora, traz café pela tarde e dorme cedo, com a lua. Se muda, se vira episódio de série americana, sai do auge do querer, tira o clima da emoção. Clara sempre me dizia que era assim que me queria – e que nenhum cabelo penteado pro lado errado e roupa rasgada iriam mudar isso. Repetia sempre o discurso da cadeira, dos passos e do perfume antigo. Todos de cór.
E eu que era esperto, rapaz bonito de jaqueta de couro, não pensava em cair nas falas de moça sincera. Ela me leva discreta pelo desvio dos olhos e me fazia feito boneco na mão de criança. Criança malvada, às vezes. Boneco feliz, sempre.
Era eu – e todos me confirmam – era eu que deixava que ela me moldasse. Era fácil ser alguém nas mãos de quem sabe o que quer que o outro seja. Não recordo momento algum de medo, ausência ou desilusão. Qualquer espaço vazio em mim se completava com a palavra da boca de Clara. Palavra de quem sabe dizer.
A boa gente por aí até hoje diz que uma morte estúpida e violenta não era digna de alguém que usava tão bem o tempo que a vida lhe dava. Sofrimento e dor não combinavam com alguém que passara a vida toda a andar sobre sorrisos.
Eu – eu mesmo - já não sei o que digo, mas não acredito em motivos concretos. Quem sabe esteja morto o ideal de boa gente de Clara, inatingível, utópico. Não sei, mas sei que eu não consegui alcançá-lo. Não devo ser “tão gente boa assim”. Desisti das tardes ouvindo e das noites pensando. Quero que Clara me leia e me entenda, é a alternativa que agora me resta. Já não vivo – não mesmo - e digam à Clara que morri.
Maria Sofia
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