domingo, 27 de setembro de 2009

Gente boa

Acho que preciso de umas férias. Algo no meu cabelo desgrenhado, nas minhas olheiras perpétuas e no meu humor intragável me diz isso. Meus olhos de ressaca não enganam nem mais ao velho bento da Capitu, preciso mesmo de um tempo. Umas férias do meu trabalho, da faculdade e até das minhas atividades de lazer. Pois acho que estou ficando louco, mas não posso ter certeza. Melhor mesmo é pedir ajuda.

Afinal, esse mundo lá de fora está cheio de depressivos, doidos varridos e pessoas medicadas com remédio traja preta de nível de terceiro Dan. Portanto, frenquentar um simples psicólogo hoje em dia é coisa de amador. É como ser o mais alto dos sete anões. Não é lá grande coisa. Se é que você me entende. Até porque, todo mundo sabe que esse papo de que tamanho importa é invenção do namorado da Branca-de-neve que adora fazer trocadilhos com seu calçado número quarenta e cinco.

Até aquele seu companheiro de trabalho sempre sorridente, de bem com a vida pode se mostrar um verdadeiro biruta (num estilo Britney Spears misturado com a menina Maísa do SBT), que já passou pelas mãos de todos os psicólogos e psiquiatras da região.

Foi o que aconteceu comigo numa quarta-feira cinzenta. Sentado em minha cadeira entediado com o que estava fazendo fui cutucado pelo meu vizinho de mesa. Ele me chamou para uma conversa, embora antes eu nem soubesse dizer como é sua voz, e se mostrou um verdadeiro conhecedor da linha Freudiana, Lacaniana e outras bem assustadoras de tantas sessões terapêuticas que já havia feito. Soube descrever minha aflição melhor que eu e me propôs algumas reflexões.

Ele sugeriu uma terapia do grito, alegando que uma simples análise não resolve nada. Tentei sugerir algo menos escandaloso como interpretação de sonhos ou me indicar alguns calmantes. Ele riu da minha tentativa e tentou mudar minha opinião para uma terapia em grupo envolvendo hipnose. Desesperado, consegui convencer ele a continuarmos numa simples conversa mesmo, antes que ele começasse a juntar o pessoal do trabalho. Mesmo que simples assim me ajudou muito. Principalmente por perceber que perto dele mina loucura é igual a uma cassação de deputado. Não oferece perigo algum.

Eu agradeci vislumbrado. Ele sorriu e me mostrou a última coisa que aprendeu com seus psicólogos. A cobrar. Agora ele passará uma semana de folga e eu fazendo carga horária dupla. Disse adeus as minhas férias.

Enfim, para ser gente boa... Boa da cabeça... Precisei de ajuda que virou a nova moda verão-primavera desse ano. Então fui ao divã como uma criança que vai até o Papai Noel na praça de alimentação do shopping e fiz o meu pedido. “Doutor, você tem que me tornar um cara legal”. Afinal, eu também sou normal. Uso óculos escuros a noite como todo mundo, tomo pílulas para enxaqueca, gastrite e dor muscular como todo mundo e tenho bons problemas como todo mundo. Problemas que me deixam na dúvida da minha saúde mental. Se bem que louco é justamente o cara que tem certeza de sua sanidade. De qualquer forma, se essa crise não terminar em suicídio ou casamento, eu vou ficar legal.


Jefferson Rocha

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